quarta-feira, 12 de setembro de 2012

José Siqueira, o genial maestro da Paraíba




José Siqueira é um nome muito comum no Brasil. Quantos Josés Siqueiras voce já conheceu? Acredito que pelo menos um, nem que tenha sido só de nome. Por isso, talvez o José Siqueira compositor, maestro e um dos fundadores da Orquestra Sinfônica Brasileira talvez pareça apenas mais um nome comum para 99.9% dos brasileiros, que o diga dos estrangeiros.

Bom, eu me incluo nos 00,1% dos que conhecem não só o nome do José Siqueira maestro e compositor, mas também algumas obras sinfônicas deste genial paraibano que trouxe as paisagens e aromas do seu Nordeste para o repertório sinfônico.

José de Lima Siqueira nasceu em 1907 na cidade de Conceição, no desconhecido Vale do Piancó (desconhecido pelo menos por nós do Sul-Sudeste), em pleno sertão da Paraíba. Segundo o próprio compositor declarou, na pequena cidade não havia nem um piano. Ele só viu um piano pela primeira vez na vida quando saiu da sua pequena cidade natal. Quanto a isso, não mudou nada. Até hoje há centenas de vilarejos e cidadelas no Nordeste e em outras partes do Brasil que não tem um piano, violino, clarinete e nenhum outro instrumento "da elite". O maximo que pode se encontrar é um violãozinho furreca, e olhe lá.

Voltando a história de José Siqueira, como não tinha piano, o primeiro contato dele com a música foi com as bandas de sopros de cidades do sertão da Paraíba. Seu pai era mestre da banda Cordão Encarnado, que ensinou o filho a tocar diversos instrumentos como o saxofone e o trompete.

Em 1927 veio para o Sul Maravilha, mais especificamente para a capital do Brasil - na época o Rio de Janeiro. Na verdade ele não veio por causa da música, e sim porque era integrante das tropas recrutadas para combater a Coluna Prestes. Mas claro que a música sempre grita mais alto quando voce tem esta vocação dentro de si, não há como sufocar, e logo o jovem entrou na Banda Sinfônica da Escola Militar, como trompetista.

Isso me lembra a história de Rimsky-Korsakov, grande compositor russo e um dos maiores mestres de orquestração da história da música erudita. Quando jovem, Korsakov serviu na Marinha russa, e mesmo tendo seguido carreira militar, nunca deixou a música de lado.   

No Rio, José Siqueira construiu sua carreira de compositor e maestro. Foi professor da Escola de música da Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro. Fundou a Orquestra Sinfônica Brasileira em 1940. Também regeu nos Estados Unidos grandes orquestras como a Sinfônica da Filadélfia, Detroit, Rochester. Na França regeu a Orchestre Radio-Symphonique, de Paris, e em Roma, A Sinfônica de Roma.

Fundou também a Orquestra de Câmara do Brasil, Sociedade Artística Internacional, o Clube do Disco e a Ordem dos Músicos do Brasil.

Além de ter escrito um excelente tratado de orquestração (que tive oportunidade de ler na Biblioteca Nacional), José Siqueira compos de tudo: óperas, cantatas, concertos, oratórios, sinfonias, música de câmara, música de ballet, musica vocal, etc.



Somente agora nos ultimos anos, com a internet, está ficando mais fácil - ou eu diria menos impossivel - encontrar gravações de obras de José Siqueira. Mesmo assim, ainda é muito complicado encontrar gravações de algumas obras fundamentais do maestro, como o Carnaval no Recife (com um Frevo no final que é uma página clássica do repertório sinfônico brasileiro, mas que de forma ultrajante continua totalmente desconhecido e não executado), o oratório Xangô (foto acima da capa do LP), e a emblemática Toada para Cordas, esta talvez a única obra que é um pouco mais gravada por alguns quartetos e orquestras de cordas - assim mesmo muito raramente. Também quero mencionar um belíssimo Concerto para Orquestra, de Siqueira, que assisti na Sala Cecília Meireles em 1986 ou 87 (não me lembro exatamente o ano) sendo executado pela OSB regida pelo excelente maestro Norton Morozowski. Um concerto sem instrumento solista, só para a orquestra, dividido em movimentos, da mesma forma que a Overture, Scherzo e Finale de Schumann. Porém, pintado com belíssimas cores brasileiras, e uma orquestração simplesmente fascinante.         

Esse raro concerto eu assisti nos meus tempos de estudante de música, quando realmente voce não encontrava quase nada da música de José Siqueira sendo divulgado. Na verdade, só era possivel ouvir musicas de José Siqueira através da Rádio MEC FM, o verdadeiro baluarte de divulgação da música erudita no Brasil. Se não fosse a Rádio MEC, não haveria nada, absolutamente nada de José Siqueira e de outros compositores brasileiros sendo divulgados nos anos 70 e 80. 

Essa dificuldade em ouvir obras de José Siqueira em parte se deve a um fato político infeliz, pois o maestro foi mais uma vítima da famigerada perseguição que o governo brasileiro fazia contra os comunistas (como em vários outros países do mundo ocorria), e em 1969 - logo que o terrível AI-5 foi implantado pela ditadura - Siqueira foi aposentado "antecipadamente". 

Antes, em 1948, ele também já havia sido prejudicado por ser comunista: Arnaldo Guinle, aristocrata da familia dos fundadores do Copacabana Palace e patrono da Orquestra Sinfônica Brasileira, se indispôs com José Siqueira e conseguiu afastá-lo da direção da sociedade com apoio da "ala direita" da sociedade (conforme citado no artigo da wikipedia sobre a história da OSB).




Após sua "aposentadoria", e enquanto durou o regime militar, Siqueira não teria mais possibilidades de seguir sua carreira de músico no Brasil (e obviamente também nos Estados Unidos e outros países anti-comunistas) . A solução foi ir para a extinta União Soviética, onde regeu a Orquestra Filarmônica de Moscou (foto acima) e participou como jurado de grandes concursos de música internacionais. Os russos apoiaram o brasileiro e editaram boa parte de sua obra, garantindo sua preservação.

Siqueira faleceu no Rio em 22 de abril de 1985, exatamente quando o governo militar estava dando adeus ao poder. Um  dia antes, morria Tancredo Neves, o primeiro presidente civil desde 1964, por eleições diretas. Em seu lugar, José Sarney seria o primeiro presidente civil do Brasil após os "anos de chumbo" que calaram tantas vozes, inclusive a do genial maestro José Siqueira

Se voce quer conhecer mais sobre vida e obra de José Siqueira, sugiro que dê uma olhada no blog mantido pela neta do compositor, Mirella San Martini, que está fazendo um trabalho excelente de preservação da memória de seu avô. O blog traz sempre as novidades sobre concertos e atividades musicais relacionadas a José Siqueira e mais informações sobre vida e obra do maestro. O endereço do blog é http://maestrojosesiqueira.blogspot.com.br  

Victor Jara, um martír da música e da liberdade


Mural criado por mim para uma matéria sobre o cantor chileno Victor Jara, considerado um mártir da música, por ter sido torturado e morto pela ditadura chilena só por cantar músicas pela paz e pela justiça social, contra a miséria e a desigualdade. Foi preso com outras 3.000 pessoas acusadas de apoiarem o comunismo. Todas foram presas em um estádio, onde Jara escreveu um poema sobre o terror de estar vendo seus companheiros estudantes e professores da Universidade sendo torturados e mortos. Poucos dias depois, os soldados esmagaram suas mãos para que não pudesse mais tocar seu violão, e assassinado com 44 tiros. (1) Victor Jara, (2) soldados do Exército vigiando os presos no Estádio Nacional de Santiago, no Chile, (3) Soldados prendendo pessoas nas ruas do Chile, (4) Criança pobre catando comida no chão em favela no Chile, (5) Victor Jara cantando para crianças pobres em uma Favela no Chile, (6) O sanguinário ditador chileno Augusto Pinochet, que mandou o exército assassinar todos os opositores comunistas do seu governo, apoiado pelo governo dos Estados Unidos e da Inglaterra
____________________________________________________

ENGLISH: Victor Jara is a martyr of music. He was tortured and killed by Chilean dictatorship, just for his songs about peace and social justice. He was arrested with other 3,000 people accused of supporting communism. All them were jailed in a stadium where Jara wrote a poem of horror at seeing his comrades - University students and teachers - being tortured and killed in front of him.A few days later, soldiers smashed his hands so he could play no more his guitar, and killed him with 44 shots. (1) Victor Jara (2) Army soldiers guarding prisoners at the National Stadium of Santiago, Chile, (3) Soldiers arresting people on Chile' streets, (4) Poor Child picking up food on the floor in a Chilean slum (5) Victor Jara singing for poor children in a slum, (6) The bloody dictator Augusto Pinochet, who ordered the Chilean army to murder all his communist opponents. His government was supported by US and UK. (photomontage by Roberto Carelli for Pan Channel)

Não ande atrás de mim...


domingo, 9 de setembro de 2012

A Emília era racista?




Hoje fiquei pasmo ao ler a notícia do jornal "O Globo", de que o livro "Caçadas de Pedrinho" de Monteiro Lobato, iria ser levado a uma audiência no Supremo Tribunal Federal por ter sido denunciado como uma obra literária que incita o racismo. 

A denúncia foi feita pelo "técnico em gestão educacional" Antonio Gomes da Costa Neto à Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), em relação à trechos como os que se referem à personagem Tia Nastácia como "preta" (como “Lá é isso é — resmungou a preta, pendurando o beiço”). 

Na minha opinião, o senhor Antonio Gomes deveria procurar algo melhor para fazer - dentro das atribuições de sua função de técnico em gestão educacional - para valorizar mais as pessoas da raça negra, como por exemplo recorrer ao governo para que abra mais escolas e universidades em áreas carentes, por exemplo, onde parte significativa da população é negra e não tem acesso a boas escolas e universidades. 

Isso com certeza seria muito mais útil que ficar perseguindo um livro escrito há mais de 80 anos quando o modo de se referir aos negros era este mesmo, e isso não era racismo, era apenas o modo de falar. Até minha avó falava assim de seus conhecidos da raça negra, e não era falado como algo racista, era apenas a maneira habitual de se referir.

O que este senhor esta fazendo é um racismo ao contrário. Se fosse um personagem branco em que monteiro Lobato escrevesse “Lá isso é — resmungou a BRANCA, pendurando o beiço mais branco ainda" Isso teria então que ser denunciado como racismo contra os brancos, não?

Ou se fosse "Lá isso é - resmungou a CHINESA, apertando os olhos mais ainda do que já eram", isso é racismo contra os chineses, n'est pas?

No facebook, choveram comentários a este artigo do Globo, e um rapaz negro muito indignado, saiu postando várias mensagens apoiando que o livro fosse censurado, e que era racista mesmo, e alertou ameaçador: "racistas,  corram para as montanhas! O mundo ta ficando pequeno para vocês!!" 

Uma outra pessoa postou que os livros do "Sitio" fazem "uma defesa engajada das ideias eugenistas". Para quem não sabe, a eugenia foi um conceito criado pelo cientista inglês Francis Galton, que apregoava que a melhora da qualidade de uma determinada espécie poderia ser obtida através da seleção artificial dos indivíduos com as melhores qualidades físicas e mentais para que só fossem gerados filhos com as mesmas qualidades

Este conceito foi amplamente usado por para justificar as ações de extermínio ou esterilização de indivíduos considerados inferiores. O Nazismo usou e abusou deste conceito. Mas aqui no Brasil também houve uns espasmos dessa droga de ciência inútil. Em 1918 foi criada uma tal de "Sociedade Eugênica de São Paulo", e em 1931 o "Comitê Central de Eugenismo", que entre outras pérolas do racismo, apregoava "o fim da imigração de não-brancos", e "prestigiar e auxiliar as iniciativas científicas ou humanitárias de caráter eugenista que sejam dignas de consideração". Uma respeitada publicação oficial, a "Revista Brasileira de Enfermagem", apoiava as idéias eugenistas, mas era difícil distinguir até que ponto estes brasileiros eugenistas se referiam a "raças", ou apenas a indivíduos com doenças físicas ou mentais como "não desejáveis" para a procriação.    

Voltando à vaca fria, lá no post do Globo já estavam chovendo comentários taxando a censura ao livro de Lobato "ridícula", e alguns começando a reclamar do tal rapaz que apoiava a censura, o rapaz postou que " Só a classe media branca que chama o empregado negro de "neguinho" e pessoas de cabelo crespo de "cabelo ruim" vem aqui bravejar que (o livro de Monteiro Lobato) não é racista!!" 

Nessa hora eu não me contive e postei a seguinte pergunta para o rapaz: "então se chamar um empregado negro de "neguinho" é racista, então é racista também chamar um empregado loiro de 'alemão' ou 'russo' (como muita gente chama pessoas loiras)? O que me diz?"

O rapaz não respondeu, mas continuou discutindo com os outros que postavam impropérios contra ele e sua posição isolada de apoiar a censura do "Caçadas de Pedrinho".

Não nego que exista racismo no Brasil, claro que existe. Não tão forte e sectário quanto nos Estados Unidos, mas existe. Agora o que é ridículo nessa história é querer censurar um livro escrito há quase 100 anos, que faz parte da história da literatura brasileira, por uma "caça as bruxas racistas". Conheço muito bem os livros do Sitio do Picapau, não me lembro de ter visto nada racista ou eugenista. Ou então eu sou muito burro e nunca percebi que realmente a Dona Benta, a Narizinho, Emilia e o Visconde de Sabugosa viam a Tia Nastácia, o Saci e o Tio Barnabé como seres inferiores. Então vou pegar todos os livros do Sítio e ler tudo de novo pra ver se isso é verdade.

De repente eu pulei alguma frase eugenista dita pelo Visconde de Sabugosa. Como ele era o intelectual da estória, com certeza devia ser um admirador enrustido do Francis Galton. Antes ele tivesse voltado a ser um rélis sabugo de milho de novo. Assim servia de comida para o Rabicó e não saia por aí falando bobagens sobre a Tia Nastácia, coitada. 

Fonte: http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2012/09/08/monteiro-lobato-no-banco-dos-reus-464280.asp

domingo, 26 de agosto de 2012

Foi Hitler!


Para os que ainda achavam que os americanos tinham afundado navios brasileiros na 2ª Guerra Mundial e botaram a culpa nos Alemães só para induzir o Brasil a entrar em guerra contra Hitler, aqui está a prova de que estão enganados. Segue abaixo matéria do jornal O Estado de São Paulo sobre o assunto:

Hitler ordenou pessoalmente ataques a navios brasileiros 
É o que revelam os papéis do Tribunal de Nuremberg guardados no Itamaraty
 (Publicado no Jornal O Estado de São Paulo em 25 de agosto de 2012 por Wilson Tosta




Uma estratégia naval supervisionada pelo próprio Adolf Hitler resultou no ataque generalizado de submarinos alemães a navios mercantes brasileiros junto à costa do País nos primeiros oito meses de 1942, quando o governo Getúlio Vargas ainda era formalmente neutro na 2.ª Guerra Mundial. Documentos do Tribunal de Nuremberg guardados no Arquivo Histórico do Itamaraty mostram que o führer autorizou pessoalmente o uso da força contra embarcações do Brasil em maio daquele ano, por considerar os brasileiros em guerra contra o reich.

A papelada tem partes do diário de guerra do ex-chefe de Operações do Oberkommando der Wehrmacht (OKW), general Alfred Jodl, e depoimento do ex-ministro da marinha alemã Erich Raeder na corte que julgou chefes nazistas - Jodl foi condenado à morte e Reader, à prisão perpétua. Os afundamentos levaram o País ao conflito.

"Em 29 de maio, o Comando de Operações Navais (SKL) propôs liberar o uso de armas contra forças aéreas e navais brasileiras", anotou Jodl em 16 de junho. "(O SKL) Considera apropriado um rápido golpe contra navios mercantes e de guerra brasileiros no momento presente, no qual medidas defensivas ainda estão incompletas e a possibilidade de surpresa existe, já que o Brasil praticamente está guerreando no mar a Alemanha. (...) Sobre a proposta do chefe do Comando Operacional das Forças Armadas, o führer ordenou em 30 de maio que o Comando de Operações Navais (SKL) deveria verificar, perguntando a Roma se relatórios brasileiros sobre a guerra, como ações contra submarinos do Eixo, estão corretos. A investigação (...) mostrou que submarinos italianos foram atacados em 22 e 26 de maio no canto nordeste do Brasil por aviões que fora de dúvida decolaram de base área brasileira."

Chefe da marinha de guerra alemã (Kriegsmarine) até 1943, Raeder se defendia em Nuremberg da acusação de crime de guerra por ordenar ações bélicas contra um país neutro e atacar embarcações brasileiras. Na época, os U-boats (submarinos) alemães tentavam bloquear o envio de matérias-primas e armas aos Aliados no Reino Unido e norte da África, atacando embarcações mercantes inimigas, o que não era oficialmente o caso do Brasil. Sua defesa argumentou que os brasileiros não sinalizavam corretamente seus barcos, tornando-se impossível diferenciá-los de navios inimigos. A documentação faz parte do arquivo da Missão Militar Brasileira na Alemanha e foi encaminhada ao País pelos Aliados em 1946.

Medo. A tensão entre Brasil e Alemanha vinha de 1941. O primeiro incidente entre os dois países ocorreu em 22 de março, quando o navio mercante Taubaté foi metralhado pela Luftwaffe no Mediterrâneo, junto à costa do Egito, deixando um morto e 13 feridos. Em 13 de junho, um submarino alemão obrigou o navio Siqueira Campos a parar junto a Cabo Verde. A embarcação brasileira só foi liberada após ser revistada e ter tripulantes fotografados. O Brasil aprofundava as relações com os Estados Unidos, que, a partir de junho, passaram a usar portos de Recife e Salvador. De Natal, americanos começaram a fazer patrulhamento aéreo. O Brasil rompera com o Eixo (Alemanha, Itália e Japão) em 28 de janeiro de 1942, no fim da 3.ª Conferência de Chanceleres das Américas, no Rio.

"A relação entre Brasil e Alemanha na época era assustadora", declarou Raeder, respondendo a seu advogado, Siemers, diante dos juízes em Nuremberg . "Alemães eram perseguidos lá, tratados muito mal. Os interesses econômicos da Alemanha eram prejudicados pesadamente. Brasileiros já vinham dando ouvidos aos Estados Unidos. Tinham permitido estações de rádio americanas. Transmissores sem fio tinham sido estabelecidos ao longo da costa brasileira e também estações de inteligência. (...) Eles mesmos confirmaram que tinham destruído um submarino alemão."

Depois do rompimento diplomático, recrudesceram os ataques alemães contra o País, ainda longe de águas brasileiras. A guerra chegaria mais perto em 22 de maio, quando o submersível italiano "Barbarigo" atacou (sem conseguir afundar) o vapor mercante Comandante Lira, entre Fernando de Noronha e o Atol das Rocas. O submarino foi localizado por um B-25 Mitchell da FAB, que, atacado a tiros de metralhadora, segundo a versão brasileira, reagiu com bombas. A embarcação italiana escapou, mas o incidente teve repercussão no comando alemão. É a esse caso que Jodl cita em seu diário.

A embaixada alemã temia o agravamento das relações com o Brasil, por causa da atitude da Argentina e do Chile. Após a ação contra o Barbarigo, o Comando de Operações Navais propôs que dez submarinos, que deveriam sair entre 22 de junho a 4 de julho de portos na França, bloqueassem os principais portos brasileiros de 3 a 8 de agosto. A ordem deveria ser dada aos submarinos até 15 de junho.

‘De acordo’. Segundo Jodl, depois de o comandante da marinha relatar a situação a Hitler em 15 de junho em Berghof, o führer "se declarou de acordo". "Ordenou, contudo, que antes da decisão definitiva a situação política fosse de novo examinada pelo Ministério das Relações Exteriores." A operação, porém, acabou suspensa. Veio então nova série de ataques de navios brasileiros, ainda longe das águas nacionais.

Em agosto, o Eixo iniciaria outra ofensiva, agora contra a costa brasileira. Só no dia 16 morreram 551 pessoas nos ataques aos navios Baependi (270 mortos), Araraquara (131) e Annibal Benevolo (150). Os três foram torpedeados pelo submarino alemão U-507 perto de Sergipe. Um dia depois, o mesmo submersível matou mais 56 pessoas, ao afundar os navios Itagiba e Arará na costa da Bahia. Em 19 de agosto, o U-507 afundou a barcaça Jacira, perto de Ilhéus. Três dias depois, o Brasil declarou guerra à Alemanha e à Itália.

Telegrama "altamente secreto" da marinha alemã para o OKW admitia "risco" de a força ser responsabilizada pela entrada do Brasil na guerra. Ela sugeriu ao ministério das relações exteriores que pedisse às nações neutras para sinalizar seus navios para não serem confundidos com inimigos. Por fim, o documento da marinha diz: "O Ministério das Relações Exteriores alemão, contudo, mandou tal notificação só para Argentina e Chile. Um telegrama enviado em 10 de fevereiro de 1942. O Ministério das Relações Exteriores permaneceu no ponto de vista de que Estados sul-americanos que tinham rompido relações conosco não fossem informados."

Mortes. Ao todo, 35 navios brasileiros foram atacados de 1941 a 1944 - 33 afundaram, com 1.081 mortos documentados (mas o número pode chegar até a 1.400, pois nem toda embarcação tinha controle do número de passageiros) e 1.686 sobreviventes. Estudioso da 2.ª Guerra Mundial, o historiador Frank McCann, da Universidade de New Hampshire, nos Estados Unidos, avalia que os documentos de Nuremberg trazem detalhes importantes sobre as decisões alemãs de atacar navios brasileiros. "Publicados, poderiam finalmente aquietar um pouco do nonsense sobre quem afundou os navios brasileiros e por quê."

Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,hitler-ordenou-pessoalmente-ataques-a-navios-e-cerco-a-portos,921563,0.htm

terça-feira, 31 de julho de 2012

Lampião - bandido ou justiceiro?

O crime sempre foi estudado por antropólogos e cientistas, para que se tente descobrir o porque de existirem seres humanos com tendências criminosas. Para alguns, a tendência para o crime é inata, ou seja, já se nasce com o instinto para praticar atos perversos. Para outros, um ser humano nasce sem nenhuma predisposição para o crime, e se comete crimes, é devido aos acontecimentos por que passa durante a vida.
Segundo este segundo conceito, seria possivel regenerar bandidos. 
Eu particularmente acredito que exista uma tendência inata para a agressividade em alguns seres humanos. Se isso se concretizará como prática de crimes ou não, nesse caso talvez haja a influência do meio em que o individuo cresceu e se formou. Acredito firmemente que a educação e a criação influem decisivamente na personalidade da criança, pois há crianças de indole calma e outras agressivas desde pequenas, o que mostra que há uma tendência inata para isso. Mas que pode ser "domada" e "educada" pelos pais.


Minha avó Zezinha (Maria José Braga Arruda), pernambucana, era uma adolescente na época em que o bando de Lampião perambulava pelo Sertão. Na mesma época, ela se encontrava uma vez no consultório de um dentista em Pernambuco, no momento em que foi invadido por Antonio Silvino - outro cangaceiro famoso da época. Segundo ela, Silvino teria lhe dito que "era a mais linda morena que eu já vi nesse sertão". Ele se consultou com o dentista e foi embora sem fazer nada demais. 

Eu ainda criança, ouvi da boca de minha avó Zezinha os relatos aterrorizantes e fascinantes daqueles tempos. Ela chegou a visitar uma das exposições das cabeças do bando de Lampião, e guardava uma foto em casa, que chegou a mostrar para mim. Aos que ainda não sabem, as cabeças de Lampião, Maria Bonita e seus comparsas, foram cortadas assim que eles foram mortos pela volante (grupo móveis de policiais) do comandante João Bezerra. As cabeças ficaram expostas durante mais de 30 anos em várias cidades brasileiras do Sul e Nordeste. 

Dona Zezinha faleceu em 2005, e todos os seus pertences ficaram com outros parentes com quem não tenho mais contato. Quanto aos relatos sobre os cangaceiros, estes ficaram guardados apenas em minha memória, que ainda consegue ouvir e sentir o sabor do sotaque pernambucano de minha avó contando sobre os cangaceiros, e como isso me fazia sentir a mesma estranha mistura de terror e fascinio que ela e todos os nordestinos da época sentiam, quando ouviam alguma voz avisando "Lampião tá chegando!". 

Para nós, que não vivemos aquela época naquele lugar, fica a dúvida sobre o porque de terem existido os cangaceiros. Ao mesmo tempo em que Lampião e seu bando cometeram estupros, torturas, saques, assassinatos, há relatos de que Lampião chegava em vilarejos pobres e dava festas para a população, distribuindo dinheiro (roubado de comerciantes e coronéis) para os camponêses pobres, e chamando-os para beber com ele.  

Segue abaixo o texto da pesquisadora Semira Adler Vainsencher da Fundação Joaquim Nabuco, contando a história de Lampião, o que gerou sua entrada no Cangaço, e a questão sobre o estudo que cientistas e pesquisadores fizeram com as cabeças de Lampião, Maria Bonita e os cangaceiros que foram mortos na emboscada final da policia contra o bando em Angicos, Sergipe, em 1938.  

  



Lampião (Virgulino Ferreira da Silva)

Semira Adler Vainsencher
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco


Conhecido como o rei do cangaço e o governador do sertão, Virgulino Ferreira da Silva nasceu no dia 7 de julho de 1897, na Fazenda Ingazeira, situada no município de Vila Bela (hoje, Serra Talhada), no sertão de Pernambuco. Foi o segundo filho de José Ferreira da Silva e de Maria Selena da Purificação. O seu nascimento, porém, só é registrado no dia 7 de agosto de 1900. Tinha como irmãos: Antônio, João, Levino, Ezequiel, Angélica, Virtuosa, Maria e Amália. Todos cresceram ouvindo e/ou presenciando estórias de cangaceiros, e Antônio Silvino lhes serve de exemplo maior.

Naquela época, o sertão quase não possuía escolas e estradas, viajava-se a pé, a cavalo, em burro e em jumento. Os denominados coronéis (os proprietários de terras) imperavam sob o peso da prepotência como os verdadeiros chefes políticos, sem nunca sofrer represálias porque a força do Estado estava sempre do seu lado. Neste sentido, eram eles que davam a palavra final, ou seja, elegiam, destituíam, perseguiam, condenavam, absolviam, torturavam e matavam.

Em períodos de crises econômicas, os coronéis recebiam ajuda do Poder Público. Isto era uma recompensa, um benefício recebido, por causa dos eleitores que controlavam mediante os "votos de cabresto" - aqueles votos fornecidos a um candidato, e garantidos pela palavra-de-ordem dos poderosos, que impõem nomeações e asseguram a hegemonia da classe política local, sem se importar com a competência profissional dos nomeados.

Apesar de muito inteligente, Virgulino abandona a escola para ajudar a família no plantio da roça e na criação de gado. Torna-se famoso nas vaquejadas. Gosta muito de dançar, de tocar sanfona, compõe versos e adora um rifle. Sabe costurar muito bem em pano e couro e confecciona as próprias roupas.

Ele tinha 19 anos quando entrou para o cangaço. Dizem que tudo começou através de disputas com José Saturnino, membro da família Nogueira e vizinha de terras. Lutando contra essa família durante muitos anos, Virgulino e seus irmãos já se comportavam como futuros cangaceiros, não tardando a entrar em conflito com a polícia. A decisão de viver e morrer como bandido, contudo, só foi tomada, mesmo, quando a polícia mata José Ferreira da Silva - o patriarca da família - enquanto ele debulhava milho.

Em um das primeiras lutas do bando, na escuridão da noite, Antônio (um dos irmãos Ferreira), espantado com o poder de fogo do rifle de Virgulino, que expelia balas sem parar e mais parecia uma tocha acesa, gritou o seguinte:Espia, Levino! O rifle de Virgulino virou um lampião! A partir desse dia, a alcunha do famoso cangaceiro passa a ser Lampião.

Virgulino consegue realizar seu maior sonho, com a intermediação doPadre Cícero Romão Batista: adquirir a patente de capitão, no Batalhão Patriótico do deputado Floro Bartholomeu, o batalhão das forças legais. Além de alimentar sua vaidade pessoal, a patente funcionaria como uma espécie de salvo-conduto, permitindo o bando circular pelas divisas dos estados do Nordeste.

Aproveitando aquela oportunidade, Virgulino solicita, também, para os companheiros Antônio Ferreira e Sabino Barbosa de Melo, os postos de 1o. e 2o. tenentes. Acatada a solicitação, os membros do bando abandonam as roupas costumeiras, vestem a farda de soldado e, como autoridades constituídas, passam a ter o dever - por mais irônico que isto possa soar -, de defender a legalidade e proteger a população nordestina.

Tudo isso foi redigido pelo Padre Cícero e assinado, a pedido deste, no dia 12 de abril de 1926, pelo engenheiro-agrônomo do Ministério da Agricultura, Dr. Pedro de Albuquerque Uchoa. Feliz da vida aos 28 anos de idade, o jovem Capitão Virgulino reúne a família para tirar fotografias.

Oficialmente, ele recebe a missão de combater a Coluna Prestes - um grupo de comunistas liderados por Luís Carlos Prestes -, grupo que vinha percorrendo o País durante o governo do presidente Artur Bernardes. No entanto, após se distanciar uns 6 quilômetros de Juazeiro, Lampião decide se embrenhar na caatinga, em busca de combates mais lucrativos, deixando para trás o prometido a Padre Cícero e as responsabilidades para com o Estado. E os soldados do governo foram chamados de "macacos", porque saíam pulando quando avistavam os cangaceiros.

No bando de Lampião tinha indivíduos de todos os tipos: gordos, magros, ruivos, louros, morenos, altos, baixos, negros e caboclos. Alguns, inclusive, eram jovens demais: Volta Seca (11 anos), Criança (15 anos), Oliveira (16 anos). O mais idoso era Pai Velho, com 71 anos de idade.

Lampião arranjava, facilmente, armamentos e munições, mas, como o fazia, era um segredo que não contava a ninguém. Uma parte das armas automáticas, para combater a Coluna Prestes, foi adquirida através do Deputado Floro Bartholomeu e do Padre Cícero. Os demais armamentos do bando foram arranjados mediante a intervenção de amigos.

Um acidente provocado pela ponta de um pau cega o olho direito do Capitão Virgulino, um órgão que, anteriormente, já se apresentava problemático devido à presença de um glaucoma. Enxergando com um olho, apenas, Lampião se vê obrigado a ficar sempre enxugando, com um lenço, as lágrimas que pingam do olho vazado. A despeito dessa deficiência, ele nunca deixou de ser um excelente estrategista.

NOTA DO DONO DESTE BLOG: Segundo outros documentos, não foi um acidente com a ponta de um pau que deixou Lampião cego de um olho, e sim ao ser atingido neste olho pelo espinho de um cacto baleado durante uma troca de tiros contra policiais, quando reagia após ver seu irmão mais novo - Livino - ser baleado e morto pelos policiais.

Dizem que foi uma brincadeira de mau gosto da família Ferreira (o corte da cauda de alguns animais) a gota d’água que desencadeou uma afronta irreparável com o fazendeiro José Saturnino, proprietário das terras vizinhas e membro da família Nogueira. Sendo mais numerosos e tendo o apoio do governo, essa família termina por expulsar os Ferreira de suas terras.

A partir de 1917, Virgulino e a sua família passam a conviver com intensos tiroteios e emboscadas, não podendo morar em um lugar específico: são obrigados a vagar pelo sertão e levar uma vida de nômades.

Em meio às lutas e fugas, falece Dona Maria Selena, no Engenho Velho. E, no início de agosto de 1920, o patriarca da família - José Ferreira - é fuzilado pela volante do sargento José Lucena, enquanto debulhava milho. Naquele mesmo dia, então, os Ferreira fazem um juramento: o seu luto, até a morte, iria ser o rifle, a cartucheira e os tiroteios.

Quando sabia da existência de um coronel perverso, Lampião não perdia a oportunidade de queimar-lhe as fazendas e matar-lhe o gado. Nas incursões em vilas e povoados, o grupo saqueava, dizimava e matava. As violências cometidas pelo bando eram inúmeras: tatuagem a fogo, corte de orelha ou de língua, castração, estupro, morte lenta, entre outras. Muitos habitantes abandonavam definitivamente as suas propriedades, tornando desertas as caatingas, já que elas estavam entregues a soldados e cangaceiros.

Virgulino Ferreira era bastante impulsivo. Às vezes, passavam-se meses sem se ouvir falar nele, pensando-se, inclusive, que tinha morrido. Mas, de repente, ele surgia do nada com o seu bando, como um tremendo furacão, lutando contra as volantes, incendiando fazendas, roubando e matando com a maior naturalidade. Em algumas ocasiões, seus gestos eram generosos: confraternizava com as pessoas, organizava festas, distribuía dinheiro, pagava bebida para todos.

Em uma de suas paradas para descansar, perto da Cachoeira de Paulo Afonso, conheceu Maria Déia, filha de um fazendeiro de Jeremoabo, na Bahia. Há cinco anos ela era casada com José de Nenén - um comerciante da região - mas nutria uma paixão platônica por Lampião, mesmo sem nunca tê-lo encontrado.

Alguns afirmam que foi a própria mãe de Maria Déia que segredou a Lampião sobre essa paixão. Já outros dizem que foi Luís Pedro - integrante do bando - que insistiu para o rei do cangaço conhecê-la. Na realidade, o fato é que Virgulino caiu de amores ao vê-la. E, impressionado com a sua beleza, passou a chamá-la de Maria Bonita.

Em vez de três dias, ficou dez na Fazenda Malhada da Caiçara. Com a concordância dos pais, que apoiavam o desejo da filha, Maria Déia coloca as suas roupas em dois bornais, penteia os cabelos, despede-se para sempre do marido, e parte com Lampião rumo à caatinga. Era o ano 1931 e ela tinha 20 anos.

Pouco tempo depois, Maria Bonita engravida e sofre um aborto. Mas, em 1932, o casal de cangaceiros tem uma filha. Chamam-na de Expedita. Maria Bonita dá à luz no meio da caatinga, à sombra de um umbuzeiro, em Porto de Folha, no estado de Sergipe. Lampião foi o seu próprio parteiro.

Como se tratava de um período de intensas perseguições e confrontos, e a vida era bastante incerta, os pais não tinham condições de criá-la dentro do cangaço. Os fatos que ocorreram viraram um assunto polêmico porque uns diziam que Expedita tinha sido entregue ao tio João, irmão de Lampião que nunca fez parte do cangaço; e outros testemunharam que a criança foi deixada na casa do vaqueiro Manuel Severo, na Fazenda Jaçoba.

O Capitão Virgulino adora ser fotografado e filmado. Neste sentido, consente que Benjamim Abraão, um fotógrafo libanês, conviva durante meses com o seu bando e colete muito material sobre o cangaço. Esse fotógrafo, contudo, é assassinado por um coronel, e grande parte do seu acervo é destruída.

Maria Bonita sempre insistia muito para que Lampião cuidasse do olho vazado. Diante dessa insistência, ele se dirige a um hospital na cidade de Laranjeiras, em Sergipe, dizendo ser um fazendeiro pernambucano. Virgulino tem o olho extraído pelo Dr. Bragança - um conhecido oftalmologista de todo o sertão - e passa um mês internado para se recuperar. Após pagar todas as despesas da internação, ele sai do hospital, escondido, durante a madrugada, não sem antes deixar escrito, à carvão, na parede do quarto:

Doutor, o senhor não operou fazendeiro nenhum. O olho que o senhor arrancou foi o do Capitão Virgulino Ferreira da Silva, Lampião.

Além das emboscadas planejadas para liquidá-lo, cabe ressaltar que Lampião conseguiu sobreviver ao veneno e ao fogo. Do primeiro, contou com a dosagem fraca que lhe deu, somente, um inconveniente desarranjo intestinal; do segundo, apesar de chamuscado, conseguiu escapar pulando. Mas foi ferido à bala diversas vezes.

Excetuando-se João, todos os irmãos de Virgulino morreram antes dele. Em 1926, Antônio foi morto em Serra Talhada, no encontro com uma volante pernambucana. Uma outra volante desse mesmo estado matou Levino Ferreira. O último a falecer foi Ezequiel, gravemente ferido pela polícia de Sergipe. Mas, quando Lampião percebeu que seu irmão estava se ultimando e sofrendo, saca do próprio revólver e dispara um tiro de misericórdia bem em cima de sua testa.

Em uma outra luta contra a volante pernambucana, na vila de Serrinha, próximo a Garanhuns, Maria Bonita foi baleada. Como estava perdendo muito sangue, Lampião deu ordem para encerrar a luta imediatamente: pega a amada nos braços e segue rumo ao município de Buíque, onde ela é tratada na vila de Guaribas.

Vale deixar registrado que o bando de Lampião resistiu durante quase 20 anos, brigando com grupos de civis que o perseguiam e com a polícia de 7 estados nordestinos. Por todo esse tempo, assaltou propriedades de grandes fazendeiros, atacou povoados, vilas e cidades, roubou, pilhou, torturou e matou os seus adversários.

Apesar de ter sido baleado nove vezes, Lampião sobreviveu a todos os ferimentos, sem contar com qualquer tipo de assistência médica formal. Naquela época, desconheciam-se os antibióticos e as sulfas. Para estancar o sangue e curar os ferimentos, por exemplo, usavam-se mofo, pó de café e, até, excrementos de gado. Eram usadas, ainda, ervas medicinais e rezas dos curandeiros, que nem sempre funcionavam como se esperava. Um ferimento em seu pé, neste sentido, condenou Virgulino a mancar para o resto da vida.

Extremamente jeitoso, além de dotado de grande capacidade de improvisação, era o Capitão Virgulino que fazia os curativos, encanava pernas e braços quebrados dos feridos e fazia os partos das mulheres dos cangaceiros. Super dotado de inteligência, ele era médico, farmacêutico, dentista, vaqueiro, poeta, estrategista, guerrilheiro, artesão. Desconfiado, só ingeria algo depois que alguém tivesse provado o alimento. Por outro lado, só entregava o dinheiro após ter recebido a mercadoria. Entretanto, não conseguiu se livrar da traição dos falsos amigos.

No dia 27 de julho de 1938, conforme o costume de anos a fio, o bando acampou na fazenda Angicos, situada no sertão de Sergipe, esconderijo tido por Lampião como o de maior segurança. Era noite, chovia muito e todos dormiam em suas barracas. Na madrugada do dia 28, a volante chegou tão de mansinho que nem os cães pressentiram. Quando um dos cangaceiro deu o alarme, já era tarde demais.

Não se sabe ao certo quem os traiu. Entretanto, naquele lugar mais seguro, segundo a opinião de Virgulino, o bando foi pego totalmente desprevenido. Quando os policiais do Tenente João Bezerra e do Sargento Aniceto Rodrigues da Silva, abriram fogo com metralhadoras portáteis, os cangaceiros não puderam empreender qualquer tentativa viável de defesa.

O ataque durou uns vinte minutos e poucos conseguiram escapar ao cerco e à morte. Dos 34 cangaceiros presentes, 11 morreram ali mesmo. Lampião foi um dos primeiros a morrer. Logo em seguida, Maria Bonita foi gravemente ferida. Alguns cangaceiros, transtornados pela morte inesperada do seu líder, conseguiram escapar. Bastante eufóricos com a vitória, os policiais saquearam e mutilaram os mortos. Roubaram todo o dinheiro, o ouro, e as jóias.

A força volante, de maneira bastante desumana, decepa a cabeça de Lampião. Maria Bonita ainda estava viva, apesar de bastante ferida, quando sua cabeça foi degolada. O mesmo ocorreu com Quinta-Feira e Mergulhão: tiveram suas cabeças arrancadas em vida.

Feito isso, salgaram os seus troféus de vitória e colocaram em latas de querosene, contendo aguardente e cal. Os corpos mutilados e ensangüentados foram deixados a céu aberto para servirem de alimento aos urubus. Guardadas as devidas proporções, após ter passado, praticamente, cento e cinqüenta anos da Revolução Francesa, os brasileiros retrocederam ao século XVIII, decepando cabeças como fizeram com Luís XVI e Maria Antonieta.

Percorrendo os estados nordestinos, o coronel João Bezerra exibia as cabeças - já em adiantado estado de decomposição - por onde passava, atraindo uma multidão de pessoas. Primeiro, os troféus estiveram em Maceió e, depois, foram ao sul do Brasil.

No Instituto de Medicina Legal de Maceió, as cabeças foram medidas, pesadas, examinadas, pois os criminalistas achavam que um homem bom não viraria um cangaceiro: este deveria ter características sui generis. Ao contrário do que pensavam alguns, as cabeças não apresentaram qualquer sinal de degenerescência física, anomalias ou displasias, tendo sido classificados, pura e simplesmente, como normais.

Do sul do País, apesar de se encontrarem em péssimo estado de conservação, as cabeças seguiram para Salvador, onde permaneceram por seis anos na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia. Lá, tornaram a ser medidas, pesadas e estudadas, na tentativa de se descobrir alguma patologia. Posteriormente, os restos mortais ficaram expostos no Museu Nina Rodrigues, em Salvador, por mais de três décadas.

Durante muito tempo, as famílias de Lampião, Corisco e Maria Bonita lutaram para dar um enterro digno aos seus parentes. O economista Silvio Bulhões, em especial, filho de Corisco e Dadá, empreendeu muitos esforços para dar um sepultamento aos restos mortais dos cangaceiros e parar, de vez por todas, essa macabra exibição pública. Segundo o depoimento do economista, dez dias após o enterro do seu pai violaram a sepultura, exumaram o corpo e, em seguida, cortaram-lhe a cabeça e o braço esquerdo, colocando-os em exposição no Museu Nina Rodrigues.

O enterro dos restos mortais dos cangaceiros só ocorreu depois do projeto de lei no. 2867, de 24 de maio de 1965. Tal projeto teve origem nos meios universitários de Brasília (em particular, nas conferências do poeta Euclides Formiga), e as pressões do povo brasileiro e do clero o reforçaram. As cabeças de Lampião e Maria Bonita foram sepultadas no dia 6 de fevereiro de 1969. Os demais integrantes do bando tiveram seu enterro uma semana depois.

Virgulino morreu aos 41 anos de idade. No entanto, contabilizando-se os riscos enfrentados durante 20 anos de cangaço, a alimentação incerta, as emboscadas, os ferimentos, a falta de assistência médica, entre outros, pode-se afirmar que o rei do cangaço viveu mesmo muito tempo. Vale registrar, por outro lado, que Lampião e Maria Bonita possuem parentes próximos em Aracaju: sua filha, Expedita, casou com Manuel Messias Neto e teve quatro filhos (Djair, Gleuse, Isa e Cristina).

Por fim, a grande inteligência de Virgulino Ferreira da Silva, bem como o seu valor como estrategista valem a pena ser ressaltados. Mais de sessenta anos após sua morte, ele continua sendo lembrado na música, na moda, naliteratura de cordel, no teatro, no cinema, em escolas, em museus, em conferências e debates. O temido cangaceiro, indubitavelmente, o mais importante e carismático de todos, deixou gravado nas caatingas sertanejas um pedaço da história do Nordeste do Brasil.

Recife, 24 de julho de 2003.
(Texto atualizado em 19 de março de 2008).

Fonte: VAINSENCHER, Semira Adler. Lampião (Virgulino Ferreira da Silva). Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar. Acesso em: 31 Jul 2012

domingo, 29 de julho de 2012

Recordações de uma criança em Copacabana

Rio de Janeiro em 1973 (filme)


Eu comecei a frequentar a praia de Copacabana lá por 1975/1976, uns 2 anos depois desse filme, logo depois que minha mãe se separou do meu pai e abandonou o apartamento da Tijuca onde moravamos com ele.

Minha mãe me levou para morar com a minha avó em um conjugado na Rua Siqueira Campos em Copacabana, e elas tinham o hábito de todo santo dia irem para a Praia de Copacabana. Ficavam no minimo umas 4 horas torrando no sol.

Eu nunca gostei de sol nem de calor, mas quando a gente é criança, não tem muito direito de escolha. Então eu tinha que ir com elas. Por isso, dos 4 aos 9 anos eu era um verdadeiro garotão de praia: super-bronzeado, o maior pegador de onda, e até jogava (muito mal) futebol  com uns garotos na areia (o que eu detestava, porque na praia eu só gostava mesmo era de ficar mergulhando na água).   

Me lembro que o mar era bem mais bravo assim como está aparecendo no filme, e a gente tinha mesmo que sair correndo com barraca, esteira e tudo na mão porque a onda as vezes vinha invadindo a areia com toda força, carregando tudo que estivesse pela frente. Uma dessas vezes eu tinha uns 6 anos, uma dessas ondas me arrastou da areia e quase morri afogado. Hoje em dia o mar em Copacabana é bem mais calmo.

Na verdade, a areia da praia de Copacabana era muito mais estreita que hoje. Eu não peguei essa época, mas meu pai me contava que a Avenida Atlântica só tinha uma pista, e as ondas batiam muito menos longe da calçada. 

No final da década de 60, Negrão de Lima, o governador do Rio de Janeiro (ou melhor, do estado da Guanabara, que era o nome do estado do Rio na época) autorizou a duplicação  das pistas da Avenida Atlântica, e aterraram a Praia de Copacabana do Leme ao Posto 6.
As obras começaram em 1969 e foram até 1971 (a foto acima foi tirada durante o período do aterramento, vejam como ainda só havia uma pista de duas mãos na Avenida Atlântica).  O aterramento foi feito para deter as ressacas frequentes que invadiam o calçadão e a Avenida. Também construíram, embaixo das pistas da Avenida Atlântica, o Interceptor Oceânico da Zona Sul, para resolver o problema dos esgotos desta região. O alargamento da praia foi de cerca de setenta metros de largura ao longo de toda sua extensão de quatro quilômetros.

O meu pai dizia que era por causa desse aterramento que o mar de Copacabana ficou tão bravo e perigoso, porque antes, quando o mar ia até perto da calçada, as águas eram bem mais calmas. Ficou bravio porque a areia passou a ir até a faixa de arrebentação das ondas, que antes eram lá longe, distante da beira d'água.    

Quanto ao esgoto, o que eu me lembro quando eu ia na praia na década de 70, eram de umas linguas negras saindo de grandes tuneis retangulares do calçadão, e que desembocavam no mar. Era feio de se ver, pareciam uns rios com água preta, as vezes cheirando a esgoto...eu ficava com medo de mergulhar no mar perto da desembocadura dessas linguas negras, pois eu ficava imaginando que devia ser cheia de micróbios e doenças, e que os micróbios deviam ficar nadando por ali por perto de onde a lingua desembocava na arrebentação....

Mas na década de 80 finalmente fecharam esses túneis e acabou esse negócio de lingua negra em Copacabana.      

No final da década de 80, finalmente construiram a ciclovia. Bom, isso foi a 20 anos. Mas até hoje, a ciclovia não passou da orla. Repito o protesto do meu ultimo post: porque ciclovia só na Zona Sul?    

domingo, 8 de julho de 2012

Rio de Janeiro é só Zona Sul?




Abaixo, transcrevo um artigo escrito por um leitor do Jornal O Globo e publicado pelo mesmo jornal. 
Concordo com tudo que o leitor escreve. É a explicação de como se manipula a imagem da cidade para parecer que ela é só Copacabana, Ipanema, Leblon e Barra. Porque só existe ciclovia na orla? As pessoas que moram na Zona Norte, em Jacarepaguá, na Ilha, Campo Grande, Santa Cruz...não precisam de ciclovia?
Justamente os bairros mais pobres são os que mais precisam de ciclovias ligando-os ao Centro, que é aonde a maioria dos seus habitantes trabalham. Assim não seriam mais obrigados a pegar (nem pagar) ônibus ou trens superlotados todo dia nem enfrentarem engarrafamentos gigantes na Avenida Brasil (a foto acima foi tirada em uma rua da China, onde milhões de habitantes usam todo dia a bicicleta como principal meio de transporte)   

SEGUE O ARTIGO:

'Rio, a capital da bicicleta?'


Existem umas coisas assim, inventadas num de repente, que me dão um susto. Como o Rio pode ser, ou passar a ser, assim numa frase e num instante, a "capital da bicicleta"? Como posso não me espantar? Logo eu, um ciclista insistente que usa a bicicleta para se deslocar umas vezes por necessidade, outras por lazer em fim de semana, e sempre passo por situações bastante arriscadas e muito perigosas. Como posso crer que isso vai seguir adiante e num milagre passarei a pedalar pela capital da bicicleta? Se o Rio vai passar a ser a capital da bicicleta, vê-se por aí que ninguém sabe e ninguém foi avisado.
Primeiro vamos considerar Rio de Janeiro como um todo, ou só se governa para a Orla da Zona Sul? Nosso Rio tem Botafogo, Bairro de Fátima, Centro, Tijuca, Méier, Madureira, São Cristóvão... E digo uma coisa: andar de bicicleta por esses bairros, como ando às vezes, é uma loucura.
Se a administração da cidade quiser, imagino que num prazo de 5 anos se obterá algum resultado positivo e real nessa direção e com custo baixo, mas serão necessário primeiro uns anúncios na mídia educando motoristas a respeito, porque o caso não são só os ciclistas e sim os motoristas, principalmente os dos ônibus (para variar...). Esses passam por mim a 20 cm sem diminuir a velocidade em nada. E ai do ciclista que cometer um erro nessas horas. É muitíssimo arriscado, só se gostando muito de andar de bicicleta.
Andar pelas calçadas ou pelas beiras da pista? Não é permitido andar de bicicleta pelas calçadas, mas é o que se faz na maioria das vezes, com o máximo de cuidado possível, já que pelas ruas é loucura absoluta. Muito arriscado, não recomendo para ninguém.
A prefeitura faz obras e obras e nenhuma ciclovia pela Zona Norte. Agora mesmo refez grande parte da calçada colada ao metrô da Praça da Bandeira e poderia muito bem iniciar a implantação de uma ciclovia junto à linha do trem que iria do Centro aos bairros do subúrbio. Refizeram todas as calçadas da Tijuca, na ruas Uruguai e Conde de Bonfim, e poderiam implantar aí também uma ciclovia na beirada, e nada foi feito. A estrada que vai de Cabo Frio a Búzios foi feita com uma ciclovia ao lado, apenas desenhada no chão e com sinalização, coisa baratíssima, e aqui no Rio nunca vi isso em nenhum lugar.
Portanto, gente, para o Rio ser capital da bicicleta só demos um passinho de nada, falta praticamente tudo. Abraços e boas pedaladas, mas com muito cuidado! 

Este artigo foi escrito por um leitor do Jornal O Globo.
Leia mais em http://oglobo.globo.com/ece_incoming/rio-capital-da-bicicleta-3036333#ixzz204qJBBSJ 

sábado, 16 de junho de 2012

O que fazia a cabeça das crianças antes do computador




Antes do computador passar a ser um objeto que faz parte de qualquer residência, o que deixava as crianças em êxtase eram essas coisas que voce está assistindo no video. Nada de internet, celular, Iphone, Itoken, Ipod, nada disso existia. Videogame em casa a garotada só começou a ter lá pros idos de 82.  Odyssey, logo depois Atari, tudo isso apareceu nessa época. Antes disso, na década de 70 as casas de "fliper" só tinham maquinas de Pinball. Se bem que nos Estados Unidos eu já havia experimentado uns telejogos dois anos antes, e lá eu vi que muitos brinquedos que a Estrela lançava no Brasil já tinham sido lançados primeiro nos States, como por exemplo o "Genius", que foi lançado em 1978 com o nome de "Simon", e chegou no Brasil somente em 1982. Olha o Genius aqui embaixo. Tá lembrando agora?



Dessas coisas que aparecem no video, eu me lembro do:
- Pega vareta
- ioiô da coca-cola (era doido pra ter a coleção inteira)
- Ki-suco (gôsto muito artificial, não é a toa que saiu de mercado)
- Atari (joguei muito dos 12 aos 13 anos, até enjoar)
- Daniel Azulay (Alô, alô, turma de casa! <assobio>)
- Canetinha Sylvapen (não tinha uma criança da 1ª a 5ª série do colégio que não tinha algumas dessas canetinhas)

As fitas da Basf e o Manual do Escoteiro Mirim eu tenho até hoje

 Também me lembro de outras coisas que não aparecem nesse video, como os famigerados tênis Conga

 Eu nunca quis usar esses tênis, achava horríveis, tênis de pobre, qualquer pivete de rua tinha...mas vendo a foto agora 30 anos depois, não tem como negar que essa coisa "linda" foi uma das marcas dos anos 70, usado por crianças e adultos.


Carrinho Bate-Bumbo
Movido a pilha, ele andava e ao mesmo tempo tocava uma batucada engraçada com um mini bumbo na frente do carro e dois pratinhos na frente do motorista








Autoban e  Motoban



Ferrorama





















Autoban, Motoban e Ferrorama
Três brinquedos clássicos dos anos 70. O Autoban era uma pista para montar, por onde corriam carrinhos (ambulancia, carro da policia, e ônibus). Os carrinhos subiam uma rampa puxados por uma esteira de borracha movida a pilha e depois desciam em uma pista única. O Motobam era parecido, só que eram mini-motos, e cada um tinha sua pista, assim as crianças podiam apostar corrida cada um com sua moto. O Ferrorama era uma linha de trem a pilha com vários modelos e configurações para voce montar. Além desses,  tenho até hoje a Ferrovia (A estação da Mina), que tinha um trenzinho de pilha que puxa um vagão com pedras preciosas por uma rampa para descarregá-las em um elevador que joga a pedras no outro vagão que está esperando lá embaixo. Outro brinquedo bem menos famoso, mas que também gostei muito na época eram os Ligeirinhos Stelko, uns bonequinhos que andavam automaticamente por uma cidade de brinquedo..










Falcon
Eu tinha o da primeira versão que não mexia os olhos. Fiquei maluco pra que a minha mãe me desse esse do anúncio à esquerda, que foi lançado depois. O Falcon com "olhos de águia" mexia os olhos para a esquerda e direita, conforme a gente mexia em uma alavanca atrás da cabeça do boneco. Depois, lançaram um inimigo espacial do Falcon, o "Torak" (anúncio acima à direita)




Carrinhos Matchbox
Uns carrinhos miniatura legalzinhos, abriam a porta, o capô. Com centenas e centenas de modelos disponiveis, eu tinha um furgão de transporte de cavalos que vinha inclusive com dois cavalinhos brancos dentro (foto acima)


Super Trunfo
Esse baralho foi lançado pela Grow nos anos 70, e até hoje é vendido com novas versões. No jogo, a gente competia confrontando as qualidades dos carros que cada um tinha na mão.  Por exemplo, o que tivesse um carro que tivesse a maior velocidade máxima, ou a maior capacidade de aceleração, ganhava do adversário.




Album de Figurinhas Flash Gordon
Em 1980, esse filme americano foi lançado no Brasil com uma novidade: era o primeiro filme em dolby stereo lançado no país. Eu adorei o filme, e logo comprei o álbum, que tinha um detalhe: voce não comprava as figurinhas. Para conseguí-las, voce tinha que juntar palitos de picolé da Kibon e trocar por envelopes com as figurinhas. Resultado: eu e as outras crianças passamos dias e dias na praia de Copacabana catando palito de picolé na areia pra trocar por figurinhas.     



Teco-Teco Sonoro
Era um avião movido a pilha, ele não voava, mas andava e fazia algum barulho, que nem me lembro mais qual era, porque na verdade desfrutei desse brinquedo por muito pouco tempo...Eu tinha uns 7 anos e caí na besteira de ir mergulhar na Praia de Copacabana com o meu Teco Teco novinho, que eu tinha acabado de ganhar da minha mãe, veio uma onda grande e PAF, arrancou da minha mão, e meu brinquedo desapareceu no meio da água...Como eu chorei nesse dia.





Tivoli Park da Lagoa
O parque da minha infância, desgraçadamente foi fechado. Algumas coisas inesquecíveis para a gente que frequentou o Tivoli: Casa das Bruxas, Montanha Russa Espacial (na foto), Konga (a mulher que virava gorila), Amor Expresso, Pista Veloz, Cinema 180º, Festival do Sorvetão 82, Trem Fantasma (tenho até fotos que eu tirei dentro do Trem Fantasma do Frankstein, Múmia, Crocodilo que avança mordendo, Caveira da Foice, Esqueleto que levanta... acho que não existe ninguem no Brasil com essas imagens , nem o Orlando Orfei, dono do Tivoli...qualquer dia eu posto aqui)




 Kikos Marinhos
Decepcionante...Os anúncios prometiam estarem vendendo ovos de seres humanóides marinhos que nasciam dentro d'água, com braços e pernas como no desenho à direita. Quando meu pai comprou e me deu, veio uma cartela com um saquinho de papel, com uma espécie de pó dentro. Botei num aquário e fiquei dias esperando eles nascerem, 1 semana depois só nasceram umas larvinhas microscópicas, dificílimos de se verem a olho nú, pois não eram muito maiores que um grão de poeira. Olhando com uma lupa, o que eu vi foi uma espécie de animalzinho branco que parecia um camarão microscópico de pernas ultra-curtas... se fosse hoje em dia, é claro que a empresa que lançou essa enganação seria processada pela Defesa do Consumidor




Pomby
Essa é parente dos Kikos Marinhos...Outra enganação de trouxa. Foi anunciada como uma pomba mecânica movida a corda, que saia voando que nem uma pomba de verdade. Mais especificamente uma manivela no rabo do bicho, ao ser girada, dava corda e as asas da Pomby começavam a bater....mas cadê que a maldita voava?





Kit Kit e Destaque e Brinque


Revistas que voce destacava partes e montava brinquedos de papel. Me lembro que o primeiro que montei foi o Kit Kit do Banco Itaú.




Transfer
Voce riscava em cima da revista um plástico tipo acetato que tinha uns desenhos, e os desenhos grudavam na paisagem da revista. Assim voce montava um cenário, distribuindo os personagens e objetos da forma como preferisse.




Mônica
O primeiro brinquedo que me lembro de ter tido foi o boneco da Mônica. Olha eu aí na foto com 3 meses de idade, junto com ela e seus dentões! (hahaha)  O outro boneco da direita é o Alvinho da Luluzinha (não era nada parecido com o da história em quadrinhos). Esses bonecos foram lançados em 1970. A estrela também lançou o boneco do Cebolinha, mas esse eu não tive.





Laboratório Químico Juvenil
Lançado pela "Brinquedos Guaporé", na época uma das únicas fábricas que realmente produzia brinquedos criados exclusivamente no Brasil. Alias, quanto ao lançamento deste brinquedo, é interessante ler este documento sobre qual a sua verdadeira origem.
Este brinquedo -muito educativo - era um mini laboratório que ensinava a fazer experiencias químicas. Acredite se quiser, tenho até hoje tudo guardado comigo: a caixa, os tubos de ensaio, e as pequenas garrafas de plastico com as substâncias qúimicas: acído sulfúrico, fenolftaleina, cloreto de sódio, ferrocianeto de potássio, etc, etc...
 Duas experiencias que eu gostava de fazer eram: 1) o “Sangue do Diabo” (fenolftaleína + amônia) que era um liquido vermelho que depois se transformava em transparente, com a evaporação da amônia, e 2) a "Tinta Invisível", em que voce preparava uma mistura química, molhava com ela um prego ou algo pontudo e escrevia num papel, só que como a mistura era transparente, não aparecia nada, até voce aquecer bem o papel por baixo com uma chama, e a mistura enegrecia, aparecendo então o que voce escreveu. O problema é que as vezes a chama aquecia bem até demais, e o papel acabava pegando fogo, e o resultado da experiencia era um punhado de cinzas fumegantes voando dentro da sua casa, para fúria da sua familia.

E VOCÊ? SE LEMBRA DE ALGO MARCANTE DA SUA INFÂNCIA NOS ANOS 70 e 80? POSTE SEU COMENTÁRIO ME CONTANDO.